Trabalho com livros,
eu vivo com eles, portanto estão sempre lá
me tentando mas quando tem promoção na livraria é
muito pior! É como se eles falassem: ''Por favor,
leia-me, estou tão sozinho!'' Não
tenho gênero preferido,
leio de tudo, menos bula de remédio,
porém estava com uma vontade enorme de ler
romances.
E
obviamente apenas por esse motivo eu comprei A Livraria Mágica de Paris da Nina
George...
Ok,
falando sério agora, não resisto a nada que tem no titulo algo que remeta a livros, por motivos bem óbvios. E não me arrependi, pelo contrário, fiquei bastante surpresa e de uma maneira fantástica.
Segundamente ( adoro palavras que não sei se existem), este é um livro para se ler com uma caneta ao lado ou marcador de texto se
preferir, e não, post-it não é suficiente! Precisa
ser algo mais intenso, para se adequar ao grande livro que tem em mãos! Não conhecia o trabalho
de Nina George, mas que autora! Ela escreve com alma, tem livros que lemos e
que sabemos que tem alguém ali por trás escrevendo, percebemos a ação e o ''forçar de barra'' do autor
para nos cativar, porém tem outros que simplesmente mergulhamos e esse é o caso da Nina, é quase como se
realmente estivéssemos lendo algo mágico!
Quando começamos a ler, Perdu nos
vem a mente como um senhor de idade, alguém triste e sozinho, um homem delicado que sofreu demais, se apagou ao
seu passado, uma pessoa sem esperança mas que mesmo assim quer ver os demais felizes. E isso tudo é verdade,
porém Jean não é nenhum senhor e só descobrimos isso lá pelo meio do livro, é um belo homem, vivido
porém machucado que
esqueceu da sua própria aparência e de tentar viver a sua vida. Estava ali apenas de corpo, a alma a
muito estava perdida, e não no meio dos livros, mas perdida pelo mundo, junto a uma mulher que ele
nunca mais viu, que o abandonou. E ela, apesar de não estar de fato
presente na historia, está ali mais do que qualquer outra personagem, ela é a alma da historia,
Manon é o que nos leva a entender o que é liberdade, o que é a vida e porque
temos tanto medo dela. No começo não gostei da
personagem, mesmo já sabendo da trama toda, achava ele bom demais para ela, quem dera ter um
homem como Perdu. Porém seu jeito de ver o mundo me conquistou e certamente é
uma personagem e tanto, descrita de uma maneira selvagem e sutil. Aliás todos
ali nos conquistam, especialmente Perdu e Max, um jovem escritor que no inicio
não damos nada, nadinha
por ele, mas a sua meiguice conquistou os leitores e principalmente, o
livreiro, quase o considerando um filho. As belas descrições de cada personagem,
feito com precisão mas sem te tornar
chato, assim como dos lugares, é uma das melhores coisas do livro, como se tivesse descrevendo um amigo
para apresentar a alguém importante pra ti, ou um lugar que te marcou muito e
quer compartilhar com todos, é esse o nível de encantamento que Nina passa com
sua escrita.
Como livreira, tentei captar
um pouco da essência dele, anotei todos livros que recomendavam, um dia espero ter esse
dom lindo que o protagonista tem. E um detalhe muito importante é que a
escritora introduz alguns livros na trama que não existem, ao contrário da maioria que é citado, mas justamente um deles é o que mais gostaria de ler, ''Luzes do Sul, de Sanary'', o livro que mudou a vida de Perdu, o
livro que foi escrito em forma de um chamado de amor. Me fez pensar que um dia
quem sabe, deveria escrever algo assim... Que fantástico seria!
Apesar de A Livraria Mágica de Paris ser um romance, ele é muito mais
que isso, é um livro de filosofia, uma aula sobre a vida e sobre literatura. Te
faz pensar, tem indagações que não me deixaram dormir
direito, tem frases e citações que mexeram tanto comigo que graças a elas se tornou um dos meus livros favoritos em poucas páginas. Ele
foge dos romances convencionais, não é de época, não é água com açúcar, não é erótico e não é drama, ele é uma mistura de tudo,
ele é como a vida
realmente, não tem como
especificar. É um livro para pessoas
sensíveis, muitos vão amar mas talvez
alguns vão odiar, ou achar
simplesmente bom, e essas pessoas, meu amigo, serão aquelas que perderam a maior virtude da vida, a doçura. E por isso mesmo
precisam banhar-se nessa obra, para tentar ser como Perdu, e recuperar a alegria
de viver, redescobrir o sabor que um bom livro tem. Porque sim, descobrimos que
livros tem sabor, não apenas cheiro, eles
tem gosto e cada livro é perfeito para uma pessoa, cada pessoa tem o livro certo para o momento
certo que precisa ler, o papel do livreiro é decifrar isso. E por fim, A
Livraria ainda conta com um projeto que o personagem iniciou na trama e que a
escritora nos brinda, nas últimas páginas existe uma farmácia literária para
emergências, para todos aqueles que estão sofrendo por algo, possam ler e se curar.
Obrigada e até a próxima, Literatos.
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