''Posso dizer que um bom tempo praticamente "morei" em hospitais durante parte da adolescência e posso afirmar que já vivi muita coisa, mesmo sendo nova. Nerd de carteirinha, leitora viciada, apaixonada por escrever e criar mundos, tanto próprios quanto auxiliando escritores. Já cursei mil cursos, tive todos os trabalhos que podia e peguei mais experiência do que deveria e hoje eu sei, quero viver de arte e da minha criatividade. Apaixonada por conhecer lugares novos, por filme, por música. Crio roupas retrô, motoqueira, faço poesia, pinto e tudo que o mundo permitir que eu seja, serei. ''
Que a vida seja um romance!
Essa é a frase da vida de Mariana Marry Toledo Estery, gaúcha de 26 anos, atuando no mercado editorial e livreiro há 6. Muito decidida desde criança, achava que já sabia o que faria quando crescesse. A realidade se mostrou bem diferente. Foi de querer ser estilista para psicóloga criminalística, de atriz para modelo plus size, de fotógrafa para personal stylist, de marketeira para arquiteta e design de interiores. No fim, atuou em quase tudo isso e muito mais. Sempre foi uma criança diferente, gostava de brincadeiras mais brutas, como lutinhas. Amava pintar quieta no seu quarto e fingia ler para a sua mãe, após decorar as histórias que ela lia para ela dormir. vendeu tapioca na rua, brigadeiro, bijuteria, ajudava o pai na loja de móveis usados que tinha. Sempre teve poucos amigos, com exceção do ensino médio, que apesar do preconceito contra o seu peso e jeito, haviam pessoas por ela. Porém sempre foi aquela amiga de estar presente para todos, mas nem sempre era recíproco. Nerd de carteirinha e roqueira desde nova, com 13 anos já frequentava rodas punks, tanto que quando sua mãe, Lene, ganhou um dinheirinho (pouco), abriram uma loja pequena chamada Rock Romance. A ideia da loja surgiu por conta de uma conversa com as suas colegas, mas nenhuma botou fé.
Os pais a apoiaram e assim, ela e a mãe, trabalhavam vendendo artigos de bandas, de séries e de filmes. Porém, desde essa idade Marry já amava ler, varava as noites lendo, chorando com as suas histórias ou então criando personagens para jogar RPG no falecido Orkut. O mundo da imaginação sempre esteve presente na sua vida. Até que um dia sua obesidade chegou ao limite e isso que tentava se cuidar ao máximo, inclusive sempre adepta de lutas, como Jiu Jitsu, taekondo e esgrima medieval. Porém seu joelho já não sustentava mais o seu peso, seu coração parecia que ia explodir e sua pressão extrapolava limites. Diversas vezes desmaiava e nessa época teve de se afastar das únicas amigas, para estudar de noite, único horário que conseguia sair de casa, pois o calor fazia sua pressão aumentar. Aos 17 anos foi batido o martelo que precisaria fazer uma redução de estômago, se não, não veria os seus 18 chegarem. Tinha medo, mas em uma noite de lua cheia, de molho numa piscina de plástico no terraço de casa, ela e a mãe rezaram e se comprometeram a fazer o possível para salvá-la. Por ser menor de idade, teria de esperar um ano, já que na época não poderia operar adolescentes. Foi um ano indo para Porto Alegre quase toda semana, fazendo milhares de exames, gastando todo o dinheiro que entrava na lojinha e avaliando se o seu psicológico estava preparado para todas as mudanças que viria. Fez aniversário dia 02 de Janeiro, dia 05 estava na sala de cirurgia. Renasceu neste dia. Claro que a pele caiu, cabelo caiu, anemia veio, mas foi por conta da cirurgia que sobreviveu. Não terminou o ensino médio, o sonho de ser psicóloga se perdeu. Iniciou num curso de fotografia e fez ENEM para terminou a escola. Começou a trabalhar com fotos, num lugar onde chorava todo dia no banheiro, por conta do tratamento que lhe davam. A loja fechou após um assalto que levou tudo que tinham e não tiveram dinheiro para reconstruir. Hoje, ambas as donas, arrependem-se de não ter tentado mais. Nesse tempo todo, tudo que fazia Marry feliz era ler, era entrar em um bom romance e imaginar vidas alheias, cheias de amor e fantasia. O tempo passou, trabalhou em diversos lugares, fez o curso de Design de interiores, entrou na arquitetura, mas apesar de seu amor intrínseco por história dos lugares, a matemática não deixou que continuasse. Foi aí que sua paixão se revelou. Chegou uma oferta para cuidar de uma livraria, numa cidade totalmente nova. O ideal para ela, que sofreu a maior decepção amorosa que podia, que já não aguentava o trabalho por conta de colegas brigando por comissão. Foi-se, e entendeu que na verdade não era paixão por fotografia, paixão por arquitetura, paixão por psicologia, era paixão pelas histórias que haviam por trás de tudo aquilo. Em Santa Maria, cidade da boate Kiss, viveu tudo intensamente, amores, amizades e lugares. Bebeu, dançou, pulou e namorou, mas não de verdade. Parece que seu espírito foi feito para ser sozinho, uma nômade, como viria a descobrir mais para frente. Ia para boates sozinha, teatro gratuito toda quarta-feira. Chegou já como gerente de livraria, enfrentou gente que não gostava dela, enfrentou mentiras e injustiça, mas com verdade e carinho superou. Trocou o salário por experiência, rebaixou o cargo, mas adquiriu conhecimento. Entrou para letras, fez novas amizades e se achou na literatura. Lia e lia, vivia para ler. Olhos rápidos, leitura dinâmica. Fala pelos cotovelos, fala alto, grita, se empolga, dança sozinha ou acompanhada, mas dança no meio de uma livraria. Ruim com números, virou caixa de livraria. Foi traída quando voltava a confiar em pessoas. Fez do bar a sua casa. Virou professora. Tudo intenso. Amava mostrar aos alunos do PIBID que literatura e poesia não precisam ser algo chato, amava contar histórias vestida de princesa e os alunos amavam aquela moça toda tatuada. Porém o pai teve um AVC, a depressão veio junto do desgosto por causa daquela traição, a bolsa acabou, a saúde piorou, o dinheiro acabou. Voltou para a terra natal, Cachoeira do Sul. Voltou como livreira, num emprego ótimo, mas não era onde queria estar. Todavia, era onde deveria, pois logo veio a pandemia. Sentiu falta dos amigos, principalmente porque com o pouquinho de dinheiro que juntou, comprou uma moto, mas os companheiros de viagem ficaram para trás, na outra cidade. Trabalhou e trabalhou, apenas isso. Em Cachoeira se sentia sozinha, só tinha os pais e uma amiga. Veio as férias, altos e baixos. Se apaixonou pelo mar diferente daqueles que conhecia, entendeu que podia viver sem lugar fixo se vivesse da escrita. Mas enquanto a COVID-19 não dá trégua, tudo o que tem são planos, e hoje trabalha como repórter de uma linda revista e atua como freelancer, sendo editora, redatora, copywriter e fazendo textos para mídias sociais. Além disso, ainda ajuda como livreira e cuida de seu insta, onde posta resenhas e dicas literárias, o @conselhosliterarios
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